A atual crise sanitária global nos remete a repensarmos
valores, premissas, conceitos, enfim, nosso modo de vida nas últimas décadas.
No Brasil, mais especificamente, sofremos com o êxodo rural
a partir dos anos 1960, acentuando-se nos anos 1970, como resultado da
mecanização da agricultura.
Em 1970, por exemplo, a taxa de urbanização era de 55,9%. De
uma população total, na época, de 95,11 milhões de habitantes, 52,9 milhões
viviam nas cidades e 41,6 milhões viviam no campo. No último senso, de 2010, o
quadro mudou radicalmente: dos 195,7 milhões de habitantes, 160,9 milhões
viviam nas cidades, enquanto apenas 29,8 milhões permaneciam das zonas rurais.
O inchaço das cidades trouxe um sem-número de problemas, a
começar pela infraestrutura básica, como saneamento e tratamento de água, capaz
de suprir as elevadas novas demandas. Mas não apenas isto: redes de saúde,
escolas, moradias. Tudo insuficiente para atender aos novos cidadinos.
Nos grandes centros urbanos, as pessoas se deslocam por
diversas horas, sendo obrigadas a utilizar – muitas vezes – mais de um meio de
transporte, para chegarem aos seus locais de trabalho. Além dos custos diretos
e indiretos envolvidos – passagens, frotas de ônibus, linhas de metrôs,
infraestrutura viária – também há de se considerar os custos físicos e
emocionais.
É necessário repensarmos nossos modelos, nossos padrões de
vida, de trabalho, de organização urbana. É necessário criar novas oportunidades,
mantendo as pessoas próximas de suas moradias, mais próximas de suas famílias,
oportunizando opções de trabalho dentro de seus bairros, evitando grandes deslocamentos.
Reestruturar as cidades e planejar sua expansão, de forma a
permitir que os cidadinos tenham os recursos regionalizados, atendendo suas
demandas básicas, melhorando não apenas suas condições de moradia, como também
de saúde, educação e segurança.
Alguns ensaios já estão sendo produzidos, pela iniciativa
privada, com a construção de bairros planejados, em muitas cidades. Porém, o
foco é exclusivamente comercial, voltado as pessoas com maior poder aquisitivo.
É preciso que a iniciativa privada e o poder público se unam nesta tarefa
urgente.
“Não há como encontrar a felicidade em uma cidade com mais
de oito mil almas” (Leonardo da Vince)
Silvio Luiz Belbute
Jornalista e sociólogo
MTb 0018790/RS