Nunca sabemos quando estas coisas vão acontecer conosco. Mas
somos diretamente responsáveis. Claro que somos nós que causamos, provocamos e
não adianta torcer o nariz, tentar dizer que "não é bem assim"...é
sim.
Como tudo é aprendizado, também aqui algumas lições e gratas
satisfações. As lições todos podem deduzir, não serei repetitivo. Quero me
dedicar a falar sobre as "gratas satisfações".
A primeiríssima de todas: me desculpar e agradecer a minha
filha, minha amada filha Tábata Belbute (já fiz pessoalmente). Ela segurou as
pontas, falou com o SAMU, ligou para alguns amigos meus. Apesar da emoção e
medo de ver o pai ali, deitado no chão do banheiro, gemendo de dor, suando, se
manteve firme, acalmou o mano Bruno, recebeu os amigos que chegavam e os
socorristas. Ela foi forte, firme e em nenhum momento entrou em pânico.
Parabéns filhota, desculpa o pai.
O Bruno é um caso a parte. Quem o conhece sabe do que falo.
É uma figurinha rara. Ficou assustado, claro. Me perguntou: "pai, tu vai
morrer?". Que responder numa hora dessas? O que falar pra uma criaturinha
de 4 aninhos, assistindo a toda esta cena? Então me lembrei da história que uma
amiga, querida amiga (Cristiana Fernandes), contou para o seu filho e adaptei
para o momento que vivi. "Filho, não sei se papai vai morrer. Mas vamos
combinar uma coisa? Se for a hora, o papai vai e toda vez que tu olhar pro céu
e ver uma estrela brilhar, será o papai piscando pra ti. E vou estar sempre
contigo, sempre que tu pensar no papai, tá?". Ele se ajoelhou ao meu lado,
me beijou, colocou a mãozinha no meu peito e disse com toda autoridade:
"Não pai, tu não vai morrer agora".
Não vou me recriminar pelos erros que cometi, tal como
fumar. Haverá gente demais fazendo por mim, então não perderei tempo. Somos
frutos de nossas escolhas. Ponto.
Nunca senti dor como esta: peito rasgando, como se estivesse
explodindo. Não, não tive medo. Não tive qualquer visão ou sensação além da terrível
dor no peito, dos meus filhos a minha volta, dos amigos chegando e dos
socorristas.
Cometi o erro de não pegar os nomes dos socorristas, que
foram fantásticos, muito além do profissionalismo. Pacientemente esperaram ao
meu lado que os dados do eletrocardiograma fosse corretamente transmitido pelo
canal de dados até a central e depois o retorno do diagnóstico. Foram 3
tentativas, mais ou menos 40 minutos, até vir a confirmação: infarto.
Fiquei consciente o tempo todo, com a dor indescritível no
peito.
Aos socorristas, meu agradecimento pelo atendimento.
Para finalizar esta primeira parte, do fundo do coração
(agora com molinha), agradeço a minha mana, minha amigona Carmem Reis. Largou
tudo e veio ajudar. E no caminho veio trazendo a Isabel Reis, a Carol Reis e o
Mario "Boca" Silva. Em meio ao turbilhão chegaram a Cecilia Pereira e
a Daniela Pereira (Dani Hyde). Todos ampararam meus pequenos, ficaram ao meu
lado, encaminharam o que era preciso.
Mas o mais importante: estavam ali ao meu lado. E ver seus
rostos neste momento, é algo que jamais se apagará da minha memória.
Dizer a todos, obrigado, é pouco. Ainda não inventaram
um termo que possa definir o meu sentimento. Mas um abraço apertado, em
silêncio, apenas estar ali...