Corajosa e contundente entrevista do deputado Geovani Cherini à Zero Hora, em que fala sobre os controles da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.
É a primeira vez que vejo um homem público tocar em feridas há muito abertas, que sangram os cofres públicos, sem qualquer ação para estacá-las.
Segundo Cherini, a opção política é de não contrariar interesses. Sai gestão entra gestão e de fato não há gestão. Nada se faz.
Os sistemas não são interligados, um setor não sabe o que o outro processou. E o presidente condena o setor de informática, que recebe vultosos recursos, mas não resolve estes imbróglios.
Concordo em gênero, número e grau com o atual presidente do legislativo gaúcho. Admiro sua coragem de admitir publicamente tudo isto. Já é uma mudança. Mas deverá concretizá-la e não se deixar levar pela “opção política” de acomodar as coisas.
Ainda na mesma entrevista, Cherini diz “que não é privilégio da Assembléia, que ocorre nos outros poderes”. E é verdade.
Mas apenas condenar o setor de informática é minimizar o problema. Até porque este setor está subordinado a outros, estes sim com poder de decidir. E é ai que o caldo entorna.
Já tem mais de 10 anos que prego, acho que isoladamente, que nossas companhias públicas de informática (PROCEMPA e PROCERGS) retirem-se do mercado comercial e foquem suas ações no desenvolvimento de sistemas integrados, com ferramentas que auxiliem a gestão dos governantes. Ambas possuem quadros técnicos altamente qualificados e possuem todos os recursos humanos e tecnológicos para esta tarefa.
Falta a decisão política de fazer.
A presença destas companhias na área comercial acaba gerando concorrência indevida com as demais empresas de tecnologia. Se tiveram papel importante na informatização, como a execução dos anéis de fibra óptica, por exemplo, cumpriram seu papel histórico. Agora é hora de deixar que o mercado atue.
Não se trata de sucatear o que está feito. É uma oportunidade impar de promover o desenvolvimento econômico, apoiando as pequenas empresas do setor, que passariam a comercializar seus produtos e porque não a formação de consórcios de pequenos empresários para gerir os recursos técnicos, modernizando e agilizando a gestão.
Tais ações gerariam ao mesmo tempo economia aos governos e ampliariam significativamente as receitas. E vou mais longe: com o aumento das receitas seria possível formar um Fundo para alfabetização e inclusão digital.
Redirecionando os quadros técnicos para missões focados na administração pública, nossos governantes, em todos os níveis, teriam ferramentas on line em tempo real aplicadas a gestão.
Hoje recebem relatórios separados, de cada pasta ou órgão, sem uma linha lógica, demandando tempo e recursos para sua análise.
Aplicações como BI (Business Intelligence) não estão ao alcance. E nossas empresas públicas de tecnológia, após a implementação de sistemas integrados, poderiam disponibilizar um GI (Govern Intelligence), possibilitando aos nossos governantes tomarem decisões estratégicas, correções de rotas, no curto prazo, com respostas rápidas.
Novamente aqui colocamos a “carreta na frente dos bois”. Há uma frenética corrida pelo e-gov, voltado ao atendimento dos cidadãos. Iniciativa louvável e ajustada a nossa realidade contemporânea. Mas não se faz a lição de casa, trabalhando internamente, para atender as demandas da moderna gestão pública.
E nem vou falar que nossos governos não trabalham em rede, aproveitando as ferramentas disponíveis, como forma de otimizar suas relações internas.
Mas isto é tema para outro artigo.
Parabéns pela coragem, presidente Cherini.